"Viver a língua é isso que quem faz intercâmbio busca mais intensamente. Acredito em aula-passeio, multi e interdisciplinaridade e em abordagem comunicativa, os três esteios teóricos básicos de minhas aulas.
Ontem foi para "vivermos" uma aula de capoeira. Contamos com a boa vontade, profissionalismo e senso de cooperação do grupo "Corpo livre", do mestre Magão, do Breno - Mestrando Anjinho, de Fernando - Mestrando Perninha, Mestre Magão, Ruan Medeiros Medeiros- Vilão, Gessiêda Araújo - Furta Cor, Mariana - Banana, Heloísa França...
O aprendizado começou na própria APRESENTAÇÃO, pois é preciso saber por que os APELIDOS são/eram mais importantes historicamente do que os NOMES para os capoeiristas.
Uma aula que lida com o movimento, quando bem programada por um bom professor, prevê momentos que respeitam o corpo e, portanto, cuida do ALONGAMENTO, da CONSCIÊNCIA CORPORAL, DO SENSO DE ESPAÇO, e, no caso da capoeira, do RITMO, daí a importância das PALMAS. Como foi uma aula de apresentação, contamos com a PACIÊNCIA e os CONHECIMENTOS passados acerca dos INSTRUMENTOS MUSICAIS típicos da capoeira: BERIMBAU/CAXIXI, ATABAQUE e PANDEIRO. Perninha nos explicou os três tipos de berimbau, do som baixo ao floreio. Anjinho falou da importância da batida do atabaque, o coração da dança/música. Quatro PASSOS BÁSICOS foram trabalhados: JINGA, ESQUIVA, GUARDA BAIXA e COCORINHA. Daí a importância de aprender os verbos JINGAR, SE ESQUIVAR, SE BAIXAR para SE GUARDAR, SE PROTEGER. Entender a mistura de culturas presentes na capoeira é essencial para entender um pouco por que é considerada tão brasileira. É uma LUTA? É um JOGO? É uma DANÇA? É uma MÚSICA? É uma BRINCADEIRA? Bem... e se for tudo?
Qual a importância da RODA? E o que é e como se dança um SAMBA DE RODA? E como se dança maculelê? (Estávamos tão envolvidos que nem filmamos. Rsrs).
Observaram que para se começar a jogar, primeiro se faz uma SAUDAÇÃO inicial? Perceberam também a saudação final? Viram a NOÇÃO DE RESPEITO pelo parceiro? Perceberam o CUIDADO COM O OUTRO, com o PARCEIRO jogador?
Ao término da aula, Anjinho agradeceu a presença de todos e falou sobre a importância de ENSINAR e APRENDER como uma via de mão dupla, complementares. Os alunos INTERCAMBISTAS agradeceram através da fala de Zuzu Bartošková, Joel Pitkänen e posteriormente em pequenos grupos vários demonstraram sua satisfação em ter participado. E eu só pude dizer MUITO OBRIGADA a todos os envolvidos que compreendem que o LÚDICO é muito importante para a APRENDIZAGEM, especialmente de uma língua. Meu RECONHECIMENTO e AGRADECIMENTO públicos ao grupo CORPO LIVRE pela aula animada, participativa. Em tempos em que a obesidade se espalha e governos acham que a atividade física não é papel da escola, eu só tenho a dizer VIVA A CAPOEIRA e sua rebeldia! José Arnóbio e todos os professores de Educação Física e de ATIVIDADES CULTURAIS, meu respeito. Ao IFRN Natal Central, para que continuemos lutando por uma escola inclusiva, diversa e onde a formação geral do cidadão seja entendida como formadora de um ser completo, afinal cabeça também é CORPO. Luzimar Silva, Marcelo Camilo, Régia Lopes, Wyllys Farkatt Tabosa, para que lutemos contra a xenofobia sempre. 👏🏽🇧🇷👏🏾👏👏🏻👏🏼👏🏿🇧🇷 🇨🇱🇺🇸🇫🇷🇲🇽🇵🇱🇫🇮🇩🇪🇧🇪🇩🇰AXÉ para todos os que são de PAZ e, se preciso, de LUTA!!!" Texto da Professora Iaçonara Miranda de Albuquerque, em visita junto de seus alunos intercambistas a um dos treinos do Corpo Livre no IFRN/CNat.
O Grupo de Capoeira Corpo Livre foi criado por Mestre Robson Fora do Ar 26/04/1983, transformado em 2004 no Centro Cultural Corpo Livre - CCCL, em Natal/RN, com duração indeterminada e número ilimitado de sócios, registrado no ministério da fazenda sob o CNPJ: 06.949.956/0001-10 com caráter filantrópico e assistencial, sem fins econômicos. Tendo por objetivos difundir e preservar os aspectos culturais, científicos e sociais que envolvem a Capoeira, seus professores, mestres e simpatizantes.
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quarta-feira, 28 de setembro de 2016
sexta-feira, 9 de setembro de 2016
O lado esotérico da capoeira
A SENDA ESOTÉRICA DA CAPOEIRA
“Dois homens
vestidos de branco estão agachados frente a frente, concentrados no ritmo
cadenciado que o mestre tira do seu berimbau. Ao redor do círculo marcado no
chão – a roda – os demais, também de branco, batem palmas e acompanham em coro
o refrão cantado pelo Mestre. A um sinal deste, os dois homens se benzem e
iniciam seus movimentos circulares, desferindo golpes cujo a violência fica
encoberta pela beleza daquilo que à primeira vista é apenas uma dança.
Na realidade
a capoeira é mais que uma luta ou uma dança, um esporte ou uma manifestação
folclórica. É uma herança místico-cultural de inestimável valor que nos foi
legada pelo negro que veio ao Brasil como escravo, e aqui usou-a para lutar por
sua liberdade. Porém como quase todas manifestações culturais e religiosas do
negro, também a capoeira sofreu, ao longo dos séculos, uma perseguição
sistemática por parte do branco zeloso de sua “cultura” européia.
Por esta
razão chegou até nós uma imagem deturpada, na qual é evidenciado o fato de ter
sido praticada principalmente por marginais (criados pela própria sociedade que
libertou o negro sem, no entanto, dar-lhes oportunidades dignas de
sobrevivência). Mas o seu maior prejuízo foi a perda do caráter
místico-filosófico, que só agora estamos tentando redescobrir e transmitir.
Para se
compreender o sentido místico-filosófico da capoeira, talvez seja interessante
compará-la com as artes marciais orientais, que desde tempos imemoriais são
usadas para auxiliar o homem a transcender seus limites físico-mentais a níveis
quase utópicos da nossa compreensão (vide planeta nº 94).
Para que o
jogo da capoeira se desenvolva, dois elementos são indispensáveis: o ritmo
vibrante e cadenciado do berimbau e a roda – espécie de arena onde o jogo se
desenvolve. Na realidade, o jogo da capoeira é a representação da eterna luta
pela harmonia do universo, a eterna luta das energias positivas e negativas das
quais todas as coisas e seres são feitos. Na capoeira o jogo desenvolve-se
dentro da roda traçada no chão, e é interessante lembrar que em todas culturas
arcaicas, o círculo foi símbolo do universo, por não ter início nem fim. Os
golpes desferidos são sempre circulares e em sequência ininterrupta,
simbolizando o eterno movimento de suas forças integrantes e antagônicas.
Ao contrário
das artes orientais, aqui não se bloqueia ou impede-se a finalização do golpe
adversário. O contragolpe só é desferido quando o adversário terminou, naquela
fração ínfima de tempo em que este está desequilibrado. Como todos os
movimentos são circulares, na realidade o contragolpe vem “preencher o vácuo”
deixado pelo golpe, do mesmo modo que as energias do universo não se destroem,
apenas combinam-se sem que haja perdas de carga; há apenas perda do espaço
ocupado por uma em detrimento da outra, num movimento constante e harmônico.
Mas o
principal elemento de transcendência mental é o berimbau – o primeiro e mais
importantes dos mestres. É o seu ritmo que harmoniza o corpo, é a sua vibração
que eleva a mente do capoeirista. Pode-se afirmar que o ritmo do berimbau,
auxiliado por pandeiro, atabaque, palmas e canto constitui-se verdadeiro
mantra, que à semelhança deste eleva os capoeiristas a níveis mais elevados de
consciência permitindo que seu corpo e sua mente realizem verdadeiros prodígios
em termos de reflexos, velocidade, equilíbrio e flexibilidade.
Artur Arpad Szabo – diretor da Associação de Capoeira
Guaiamúns-Nagôas, Rio de Janeiro – RJ
Revista Planeta, nº120, setembro de 1982
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